Mario Lalau joins the tradition of street photographers who wander the cities adrift, as the flaneur, the wandering character of Charles Baudelaire. Every corner turned, you renew the possibilities of meeting with the fortuitous, the unexpected, and stimuli that will make this atavistic need to scour the living space an exciting possibility of new adventures.
To repeatedly go through the same spaces in our customary displacements, we naturally tend to stop seeing them in detail. The flow will gradually automate itself. We tend to see a whole that is equal, repetitive and boring, suppressing the ability to perceive the subtle changes with which the sum of the days incessantly sculpts the landscape.
As a direct effect of globalization, it is also a fact that the metropolis resembles more and more in their conformations, in their signs, in the ordering of the flow of people, vehicles, on the facades, in the way it organizes trade, department stores and franchises that are always the same in Sao Paulo, Dallas, Berlin or Buenos Aires.
This contemporary sense of déjà vu, at the same time that it bares witness to a certain disappearance of the cultural particularities of each place, it promotes an increasing limitation of our ability to see and, more importantly, the possibility to encounter that which can surprise us.
Ultimately, the contemporary flaneur tends to depress and curve paralyzed when faced with the sameness, the lack of pace and attractions in the metropolises.The experience of wandering the city can become quite frustrating, because the appointment with chance appears to have been canceled indefinitely.
This photo essay of Mario Lalau seems to be a kind of manifesto that goes against this discourse of the pasteurization of the global landscape. The photographer moves with frequency to many cities in various world locations. As a solitary traveler he likes to walk aimlessly to unravel the cities wherever he goes. The camera acts as a propellant engine that is obstinately moving forward in this wanderer's displacement.
Far from the usual photos of the accidental tourist in your images we do not see the city that is proud to show its monuments, its lush architecture, its historical landmarks. What Lalau reveals, with his ability to notice chance, are the ironies and the gags that seem to be revealed just to him in the public domain, is something that results from the substrate of human relations, the pacts of conviviality, the silent social and behavioral rules.
These chance encounters between form and meaning, objects and utilities, logic and deviations, nature and culture, that the artist catches in his wanderings, generate a plethora of sculptural events which together sound like a precise chronicle of the contemporary man's theater of customs. When faced with his images we often laugh at our own beliefs and idiosyncrasies. An oblique way of seeing that can activate a decisive critique about our days pulling from the unusual and humor.
Text: Eder Chiodetto
Mario Lalau se filia à tradição dos fotógrafos de rua que perambulam à deriva pelas cidades, como o flaneur, personagem errante de Charles Baudelaire. A cada esquina que se dobra, renovam-se as possibilidades do encontro com o fortuito, com o inesperado, com estímulos que farão dessa necessidade atávica de vasculhar o espaço de convívio uma excitante possibilidade de novas aventuras.
Ao percorrer repetidamente os mesmos espaços, nos nossos deslocamentos costumeiros, tendemos naturalmente a deixar de enxergá-los em detalhes. O fluxo vai aos poucos se automatizando. Tendemos a ver um todo equânime, repetitivo e enfadonho, suprimindo a capacidade de perceber as mutações sutis com as quais a soma dos dias incessantemente esculpe a paisagem.
Como efeito direto da globalização, é fato também que as metrópoles se assemelham cada vez mais nas suas conformações, nos seus sinais, na ordenação do fluxo das pessoas, dos veículos, nas fachadas, na forma como se organiza o comércio, as lojas de departamento e franquias que são sempre iguais em São Paulo, Dallas, Berlin ou Buenos Aires.
Essa sensação contemporânea do dèja-vu, ao mesmo tempo que flagra um certo esmagamento das particularidades culturais de cada lugar, promove um crescente apagamento da capacidade de enxergar e, mais ainda, da possibilidade do encontro com aquilo que possa nos surpreender.
No limite, o flaneur contemporâneo tende a deprimir e quedar-se paralisado diante da mesmice, da falta de ritmo e de atrativos nas metrópoles. A experiência de errar pela cidade pode tornar-se absolutamente frustrante, pois o encontro marcado com o acaso parece ter sido cancelado em definitivo.
Esse ensaio fotográfico de Mario Lalau, parece ser uma espécie de manifesto que vai justamente na contramão desse discurso da pasteutização da paisagem em escala global. O fotógrafo desloca-se com frequencia por muitas cidades em vários locais do mundo. Viajante solitário tem por gosto caminhar sem rumo para desvendar as cidades por onde passa. A câmera fotográfica funciona como um motor propulsor que o faz seguir obstinadamente em frente, nesse deslocamento errante.
Longe dos registros costumeiros dos turistas acidentais, em suas imagens não vemos a cidade que se orgulha em mostrar seus monumentos, sua arquitetura exuberantes, seus marcos históricos. O que Lalau revela, com sua capacidade de perceber o acaso, as ironias, as gags que parecem se revelar apenas pare ele no território público, é algo que resulta do substrato das relações humanas, os pactos de convivência, as regras sociais e comportamentais silenciosas.
Esses encontros fortuitos entre forma e sentido, objetos e utilidades, lógica e desvios, natureza e cultura, que o artista flagra em suas andanças, geram uma infinidade de ocorrências escultóricas que, reunidas, soam como uma crônica precisa sobre o teatro de costumes do homem contemporâneo. Diante de suas imagens rimos muitas vezes das nossas próprias crenças e idiossincrasias. Olhar oblíquo que consegue ativar uma crítica contundente sobre os nossos dias a partir do insólito e do humor.
Texto: Eder Chiodetto